31 maio 2016 às 10:33

Palmas 27 anos: Cultura das feiras municipais é uma das particularidades marcantes da capital tocantinense

No início da década de 1990, um ano após o lançamento da Pedra Fundamental, ocorrida em 20 de maio de 1989, surgia timidamente, a primeira feira na mais jovem capital do País, Palmas. Na época, o chão batido que hoje abriga a rotatória em frente à Feira Municipal do Jardim Aureny I recebia pequenos comerciantes e agricultores, muitos que haviam chegado à ‘capital das oportunidades’ e outros vindos até mesmo de cidades vizinhas, como Porto Nacional.

 

Este é o caso de Aldenor Januário dos Santos, que há 20 anos, faz feira em Palmas. Aos 45 anos, lembra o feirante: “Comecei a trabalhar em feira aos 18 anos em Porto Nacional com meus vizinhos e desde aquela época já vinha para cá vender minhas verduras, pois tinha muitos trabalhadores e alguns pequenos comércios que eram nossos clientes”.

 

Hoje, morador de uma pequena chácara nos arredores do Assentamento São João em Palmas, vive com a esposa Vanderleide Lima de Sousa e quatro filhos onde produz o que comercializa. “Desde cedo eu ajudava na roça dos meus pais em Porto Nacional e hoje, apesar dos meus filhos estudarem, todos eles me ajudam e tudo que eu vendo é produzido por mim e minha família, desde a mandioca, cheiro verde, quiabo”, diz o feirante que só tem a agradecer a Palmas pela oportunidade que teve.

 

Desde então, conquistou clientes fiéis como o dono de um bar na Avenida LO-27 que liga as quadras 1106 e 1206 Sul, Rui Brasil Oliveira da Silva, que não abre mão de comprar na feira da 1106 Sul. Na banca de Aldenor, Rui garante produtos frescos para preparar os acompanhamentos do churrasquinho que vende. “Já tinha o hábito de comprar para mim nas feiras e desde que iniciei no ramo, toda semana estou aqui”, enfatiza o comerciante que está nesse ramo há quatro anos.

 

Assim como muitos, Aldenor não é o único a fazer mais de uma feira em Palmas. Em 27 anos de história, a cidade cresceu e com ela a cultura das feiras. “Ao todo são sete feiras cobertas e mais três feiras de rua, estas mais recentes, porém com muito potencial para crescer e são nelas que pretendemos investir”, enfatiza o secretário de Desenvolvimento Rural (Seder), Roberto Sahium.

São duas na Região Norte, a da quadra 503 Norte e 307 Norte, além de duas mais ao centro de Palmas, a da 304 Sul e 1106 Sul. E, ainda, as dos setores Jardim Aureny I e III e a de Taquaruçu Grande.

Já as de rua acontecem na praça da Igreja na Avenida Tocantins em Taquaralto, Lago Sul e Buritirana.

 

Ícones das feiras

Em 1990, quando chegou a Palmas para trabalhar como mestre de obras na construção da cidade, Delson Martins Santos, não imaginava alçar voos tão altos, mesmo assim não pensou pequeno. Logo começou a comercializar paçoca de carne de sol, uma comida típica da gastronomia tocantinense, e desde então ele é o “Rei da Paçoca”.

 

“Comecei com 5kg de carne de sol por semana e cheguei a 1.500kg. Graças a Deus cresci muito e apesar de nos últimos seis anos ter tido uma queda de 60%, já que hoje não passo de 1000kg por semana, continuo com uma boa demanda. Tenho muitos clientes fiéis”, enfatiza Santos, que além de ser encontrado somente na Feira da 304 Sul, conta com um ponto comercial na Avenida Teotônio Segurado e uma fábrica na quadra 412 Norte.

 

Sua ascensão se deve a clientes como o advogado Antônio Luiz Coelho. Pioneiro em Palmas, Coelho mora na quadra 204 Sul, em frente à feira. “A feira é o quintal da minha casa, por isso desde que a feira iniciou estou aqui garantindo minha paçoca”, tanto na terça como na sexta-feira, disse.

 

Porém, suas paçocas extrapolam os limites da circunvizinhança. É o que garante clientes como o administrador Márcio Carvalho. Com irmãos morando em Brasília, Goiânia e Uberlândia – MG, Carvalho adianta que, sempre que os visita, leva paçoca para eles. “Agora mesmo estou indo para uma pescaria no Mato Grosso e vim comprar uma paçoquinha para galera”, conta.

 

Assim como o Rei da Paçoca da Feira da 304 Sul, o inconfundível Panela é outro ícone, porém encontrado em outras feiras.“Eu não gosto que empurrem o barco, eu gosto mesmo é de remar meu barco”. Desta forma, como uma pessoa perseverante, é que se define o piauiense João Luís da Silva Matos, o popular Panela que faz diversas feiras. O nome não é em vão. Em sua barraca, Panela comercializa, panelas, frigideiras, pequenos utensílios de cozinha, além de fazer reparos em panelas e panelas de pressão.

 

“Quando cheguei a Palmas, no dia 2 de março de 1993, minha mercadoria era toda numa caixa de tomate e eu carregava numa bicicleta. Hoje para carregar a minhas coisas eu uso uma caminhonete. Tudo que conquistei devo a Palmas, por isso sou muito feliz”, comemora Panela, acrescentando que com o lucro obtido nas feiras da Capital comprou sua casa própria. 

 

Toda essa prosperidade foi acompanhada pela comerciante Maria Ângela Carvalho de Souza, de 38 anos. “Vim de Caldas Novas-GO com minha mãe e irmãos quando ainda tinha seis anos de idade e presenciei o surgimento da primeira feira de Palmas, a Feira do Aureny I. Tenho por ela, e por todos que conheci aqui no início como o Panela, um carinho muito especial. Para mim, o coração de Palmas é aqui”, enalteceu.

 

Comidas típicas

Assim como a paçoca, outra iguaria da culinária tocantinense que não pode faltar nas feiras palmenses é o pequi. Dona Maria das Dores de Brito é umas das feirantes que garante pequi a seus clientes o ano todo. Mas nem sempre foi assim, a iniciativa partiu da procura da clientela.

 

Desde que chegou a Palmas em 1994, vindo de Goiânia, dona Maria das Dores de Brito atua no ramo alimentício. Segundo ela, começou vendendo temperos e logo em seguida veio o churrasco, tanto o espetão quanto os tradicionais espetinhos pelmenses.

 

Com o tempo, a pedido da clientela, a feirante não teve outra opção a não ser ampliar o negócio. “As pessoas pediam para diversificar, eram trabalhadores, queriam uma comida para dar mais sustância. Foi então que diversifiquei o cardápio e desde então na minha barraca servimos buchada, chambari, galinha capira, feijoada, além do pequi que tem o ano inteiro. Foi desse jeito que conseguimos agradar a todos, pois Palmas é a capital que mais tem gente de fora”, enaltece a feirante que sempre atuou nas Feiras da 304 Sul e Aureny I.

 

Feira da 304 Sul

Com um projeto arquitetônico diferenciado das demais, a famosa feira da 304 Sul funciona duas vezes por semana, às terças-feiras e sextas-feiras com a feira do agricultor e a tradicional, respectivamente. Nela, também é possível encontrar, assim como nas outras, uma grande variedade em hortaliças, frutas, legumes, temperos, lanches, comidas típicas, embutidos e até mesmo roupas e acessórios. Porém, traz como diferenciais, a Central das Flores, que funciona de terça-feira a sábado, e a feira livre de automóveis, que funciona no domingo.

 

Mas nem sempre a Feira da 304 foi grande assim. De acordo com a Superintendência de Feiras da Secretaria de Desenvolvimento Rural, assim como as demais, começou com um pequeno galpão de aproximadamente 1.500m². “Hoje sua estrutura imponente de 4.235m², com 150 barracas construída numa área total de mais de 19 mil m² , revela o espaço que foi reinaugurado em 2008 e recebeu o nome Espaço Popular Mário Bezerra Cavalcante”, esclareceu o superintendente Ruidelmar. 

 

A funcionária pública, Maria Lúcia Alves de Souza Gomes, é frequentadora assídua da Feira da 304 Sul mesmo antes de morar na Capital e acompanhou toda a evolução da feira. “No início era menor, mas não deixava de ser aconchegante, era um ponto de encontro. Lá iam pessoas de todos os tipos, trabalhadores que vieram construir a cidade, artistas e políticos. Mas quando a gente chegava não percebia tanto as diferenças sociais, era democrático. Hoje continuo frequentando e vejo que com a reforma, a feira se diferencia de todas as outras por ser um espaço organizado, com grande variedade de produtos”, avalia.

 

Maria Lúcia lembra ainda dos momentos que passou pela feira quando ainda não morava em Palmas. “Morava em Miracema e como tínhamos familiares aqui em Palmas, sempre que vínhamos visitá-los a gente passava na feira pra tomar um caldinho e o hábito dura até hoje”, finaliza a servidora que mudou-se para Palmas em 1998 com seu esposo e três filhos.