Agosto Verde: sucesso da produção de abelhas sem ferrão depende no manejo adequado
Aula prática no Dia Técnico sobre Agroecologia ensinou como multiplicar enxames e peculiaridades dessa cultura
O interesse pela meliponicultura,
produção das abelhas sem ferrão, tem crescido no Brasil, e principalmente em
estados com clima mais quente, como o Tocantins. Assim como outras atividades
voltadas para a produção de alimentos, o conhecimento técnico é essencial para
que se obtenha bons resultados e lucratividade, tudo aliado a preservação
do meio ambiente. Com esse intuito, a Prefeitura de Palmas, por intermédio da
Secretaria de Desenvolvimento Rural de Palmas (Seder), realizou na manhã desta
quarta-feira, 28, o Dia Técnico sobre Agroecologia, na Escola de Tempo Integral
(ETI) Fidêncio Bogo, em Taquaruçu Grande.
O evento contou com a presença de produtores rurais, representantes de
entidades ligadas ao homem do campo, estudantes dos cursos de Engenharia Agronômica
do Centro Universitário Católica do Tocantins e Instituto Federal do Tocantins
(IFTO), técnicos do Ruraltins e representantes do Centro Universitário Luterano
de Palmas (Ceulp/Ulbra).
O técnico em agropecuária do Instituto de Desenvolvimento Rural do
Estado do Tocantins (Ruraltins), Wandro Gomes Cruz, apresentou todas as
peculiaridades para a criação das abelhas sem ferrão, com orientação sobre a
estrutura da caixa que abriga as abelhas; cuidados com os alimentos que elas
consomem (flores); macetes para combater as principais ameaças, a exemplo da
lagarta, mosca e cupim; e os desafios que os produtores enfrentarão. “A
meliponicultura já era praticada pelos povos nativos da América Latina, em
especial no Brasil e México. É uma atividade extremamente prazerosa com
diversas vantagens em relação a apicultura: as abelhas sem ferrão não são tão
nocivas quanto ao manuseio, exigem menor esforço físico para o produtor, o mel
chega a ser cinco vezes mais caro que os das abelhas com ferrão”, explica
o técnico.
Ainda de acordo com Cruz, outra
peculiaridade que facilita o manejo é o fato de que as rainhas não voam para
outros locais, portanto a migração dos enxames não será uma preocupação.
“Elas podem até ser criadas em casa e dispensam o alto investimento com
material técnico como macacão, fumegador, centrífuga, dentre outros”,
complementa.
As espécies mais cultivadas no Tocantins são a tiúba, uruçu amarela, uruçu
preta, jataí, tubi manso e tubi bravo. Essas abelhas armazenam o alimento em
potes de cerume, ao contrário das com ferrão que se organizada em
colmeias.
Sucesso da criação está ligada a disponibilidade de água, proteção e
alimentação dos enxames, capacitação do meliponicultor, dedicação, cultivo das
espécies mais visitadas como pequi, fava de bolota, resedá, funcho, urucum,
flamboyant de jardim, ora pro nobis, pitanga. Essas abelhas precisam de
sombreamento adequado.
Ameaças
Cruz ensinou ainda uma simples técnica para evitar o ataque de lagartas e
formigas. Com uso de um troco, de preferência de eucalipto tratado, que também
contribui para afugentar cupins, a armadilha é montada com uma lata de leite
ninho ou similar, fixada no topo da estaca, de modo que a abertura da lata
fique de ponta a cabeça. “Nisso, quando o invasor tentar acabar a caixa de
abelha, ele não conseguirá subir, pois esbarrará na estrutura interna da lata e
não conseguirá seguir seu caminho”, ensina o técnico.
Outras ameaças contra a meliponicultura são a proliferação de meleiros
falsificados, a derrubada de árvores, a própria falta de enxames, a
disseminação de informações erradas sobre a atividade de meliponicultura, além
da introdução de plantas exóticas no habitat das abelhas, a exemplo de ninho
indiano, que pode levar a morte desses insetos.
Aula prática
Durante a parte prática, os participantes aprenderam como multiplicar os
enxames pelo método tradicional que permite o controle de forídeos (pequenas
moscas), mesmo no período chuvoso, a utilização de crias maduras que melhoram o
sequenciamento das abelhas e por fim, evita a desorganização nos primeiros dias
de vida do enxame.
Laudiceia Thomaz Pereira Noranha, 55 anos, moradora do Assentamento Família
Feliz, zona rural de Porto Nacional, se mostrou bem interessada pela
meliponicultura. “Na minha chácara tenho uma horta e comercializo
hortaliças e verduras. A facilidade no trato das abelhas sem ferrão é o que
mais me agradou. Vou estudar mais sobre o assunto e buscar uma nova fonte de
renda por meio da meliponicultura”, esclarece.
Não é a primeira vez que o universitário
Gabriel Rios Vogado, 19 anos, ouve falar sobre a meliponicultura, mas agora
teve a oportunidade de ver na prática como é o tratamento dado a esse tipo de
abelha. “É possível produzir em pequenos espaços e esse mel possui uma
alto valor agregado. São insetos fáceis de manusear”, exalta.
Produção agroecológica
Para encerrar o dia técnico, a doutora em engenharia do Ceulp/Ulbra, Conceição
Previero, ministrou uma breve palestra sobre o Desafio e Perspectiva da
Produção Agroecológica.
A agroecologia visa traçar um modelo tecnológico para a agricultura
sustentável, em que se desenvolva a atividade econômica agrária aliada a
preservação do meio ambiente. A agricultura orgânica é uma das vertentes das
agroecologia.