Desenvolvimento da cadeia produtiva de leite em Palmas é uma das metas da gestão municipal
Secretaria de Desenvolvimento Rural de Palmas tem investido continuamente para estruturar produção e garantir mais espaço aos produtores da Capital no mercado regional
O desenvolvimento da
cadeia produtiva do leite em Palmas é uma das metas estabelecidas pela
Prefeitura de Palmas, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Rural (Seder).
Para tanto, um árduo trabalho de assistência técnica e extensão rural segue em
curso. O objetivo central é garantir que os produtores tenham acesso a
tecnologias de baixo custo e com resultados satisfatórios.
Apesar de o senso
comum remeter a palavra tecnologia ao uso de equipamentos e técnicas com alto
valor de implantação, a proposta da Seder é justamente o contrário, ao mostrar
que a adoção de atitudes simples faz toda a diferença, como o manejo correto do
pasto e dos animais. Esses procedimentos podem ser implementados também pelos
pequenos produtores, que integram a agricultura familiar.
Dados da pesquisa
Produção da Pecuária Municipal 2018 (PPM), divulgados em setembro deste ano
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que no
Brasil, a produção de leite atingiu 33,8 bilhões de litros em 2018,
representando um aumento de 1,6% em relação a 2017, com 33,3 bilhões de litros.
Mas apesar desse
crescimento na ordenha, o faturamento no País registrou queda, conforme mostra
o estudo Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) elaborado pelo Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). O valor bruto da produção de
leite atingiu R$ 33,3 bilhões no ano de 2018, 1,69% a menos que o ano anterior,
sendo de R$ 33,9 bilhões. Os números de 2019, obtidos até setembro, apontam a
quantia de R$ 32,8 bilhões de faturamento.
No Tocantins, o
cenário seguiu os números nacionais. Em 2017 o faturamento registrado atingiu
aproximadamente R$ 152 milhões. Em 2017, os ganhos obtidos foram pouco mais de
R$ 140 milhões, representando uma baixa de 8,9 %. Até setembro de 2019 os
ganhos já chegaram a R$ 127 milhões, e a tendência é que registre baixa em
relação ao ano anterior.
Em Palmas, a
realidade tem sido moldada diariamente com apoio técnico da Seder, que não têm
medido esforços para alavancar a produção de leite na agricultura familiar e
mudar esse cenário. A Seder atende atualmente 45 produtores de leite dentro de
várias ações, como as blitze de atendimentos, transporte e distribuição de
calcário para a formação de pastagem e capineira, atendimento clínico,
melhoramento genético por meio de inseminações, inspeção sanitária, dentre
outras iniciativas em torno do melhoramento da qualidade do leite e seus
derivados.
Dados da Seder, com
base nas propriedades atendidas pela gestão municipal na cultura leiteira,
contabilizam a 2.835 hectares de terra em posse desses 45 produtores. Destes,
1.351 são voltados para a produção de leite. O rebanho total é de 1.875 animais
entre machos, fêmeas, crias e reprodutores.
Os números de
novembro deste ano apontam 484 vacas em lactação e 450 secas (que não estão
produzindo). Esses dados chamam a atenção, pois para aumentar a rentabilidade
com atividade, a diferença entre as produtivas e secas deve ser bem maior que
os atuais números. Pois a rentabilidade com as lactantes acaba cobrindo os
gastos com as secas, que neste momento apenas consomem pastagem e ração.
Os produtores
conseguiram retirar 3.623 litros de leite, dando uma média de 7,1 litros/dias
por vaca e 9,7 vacas em lactação por propriedade. Vale destacar que o
desempenho de alguns animais é superior aos demais e acaba puxando os números
dos demais locais. “Estudos sobre cadeias produtivas apontam que o aumento da
produção no período chuvoso de aproximadamente 50% se comparado a época da
seca. Por isso é tão importante que seja feita a programação de alimentação dos
animais para que consigam manter um volume interessante na época da seca,
momento em que a oferta de leite diminui e o valor tende a aumentar”, explica o
médico veterinário Cláudio Sayão.
Sayão, que também é
servidor da Seder e atende pessoalmente cada produtor juntamente com uma equipe
especializada, esclarece que uma das ações que têm feito a diferença e que
concentra a maior parte dos esforços da equipe técnica do órgão é o melhoramento
da pastagem. “Percebemos que os resultados têm sido satisfatórios com a
melhoria da oferta de alimento para o gado”, declara.
O médico veterinário
lembra que as ações na bovinocultura são fortalecidas por meio dos convênios
firmados com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), bem
como da parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no
programa Balde Cheio, que aposta na capacitação e implantação de tecnologias
simples com foco na produção leiteira.
Potencial
De olho no mercado
promissor que Palmas possui, o engenheiro agrônomo e secretário da Seder,
Roberto Sahium, informa que na Capital são consumidos diariamente cerca de 150
mil litros de leite, em sua maior parte vindo de outros estados. “Temos que
abocanhar uma parte desse mercado, para gerar emprego e renda”, defende Sahium.
O agrônomo explica
que para o bom desempenho a produção de leite precisa estar alicerçada em
quatro pilares: tecnologia, alimentação de qualidade, manejo adequado e melhoramento
genético. “Temos outra vantagem em relação a outros estados: o clima. Nossas
estações são bem definidas, o que possibilita planejamento sem surpresas. Temos
áreas baratas e água em abundância” esclarece.
O gestor reconhece
que há muito a ser feito, mas a organização do setor é essencial para conseguir
bons números em um curto espaço de tempo. “A Seder está organizando a área,
ajudando os produtores, produzindo projetos produtivos, e auxiliando para a
correção do solo de onde vem o alimento do gado”, informa.
Valor
agregado
Quem produz leite
obrigatoriamente não precisa limitar as atividades apenas na venda do produto in natura, mas pode optar pelos seus
derivados, como queijo, iogurte e doce. “Temos bons exemplos de pessoas em
Palmas que têm apostado nisso para conseguir um lucro maior, com a garantia de
qualidade e sanidade que só o Selo de Inspeção Sanitária (Selo Sim) fornece.
Com uma filosofia de
vida voltada para conceitos sustentáveis com menos impacto ao meio ambiente, a
arqueóloga Ariana Silva Braga aposta na Agroecologia como atividade produtiva
na propriedade rural da família, localizada na região da Serra de Taquaruçu.
Ainda em expansão, mas já com resultados satisfatórios, são cultivadas bananas,
cana-de-açúcar, capim santo, pimenta, abóbora, inhame e taioba. O carro-chefe e
menina dos olhos são os queijos do tipo frescal, obtidos a partir de uma cadeia
agroecológica.
Uma engrenagem
perfeitamente ajustada e voltada para a produção artesanal dá a pitada para
agregar valor a tudo que é comercializado, e conquistar um mercado em expansão
em Palmas, de quem busca uma alimentação mais saudável, com origem confiável e
ciente sobre o processo de produção do que consome. “Tudo é aproveitado. O
esterco das vacas vira adubo para as outras culturas que temos. Outro exemplo é
o soro da produção de leite, que ao invés de ser descartado, caso de algumas
propriedades, nós destinamos aos porcos, que também tem papel importante ao
ararem a terra”, explica Ariana.
A estruturação está
em curso, e atualmente Ariana e sua família lidam com três vacas leiteiras que
produzem uma média de 19 litros/dia. A intenção é chegar aos 500 litros/dia
vindos de 25 vacas. “O próximo passo e conseguir a certificação de produto
orgânico. Para tanto estamos em busca para cumprir todas as exigências
necessárias”, adianta Ariana.
A arqueóloga explica
que o mercado orgânico existe em Palmas, só precisa ser desenvolvido. “Essa
educação ambiente deve ser trabalhada entre os produtores e consumidores. Os
conceitos devem ser claros”, defende.
Paixão
move produtor
Após aposentar e ter
que buscar uma nova atividade para se dedicar, Ricardo Wanderley, de 66 anos,
decidiu retornar as origens e novamente tirar seu sustento do campo. Paixão
antiga, a produção leiteira voltou a ser a menina dos olhos de Wanderley.
“Achei oportuno retomar o sonho, além do que, o mercado de Palmas é carente de
leite”, explica.
Atualmente com 20
vacas, sendo 15 em total lactação e as demais em período de descanso. Wanderley
consegue obter diariamente cerca de 150 litros, uma média de 10 litros por
animal. Sobre o apoio que recebe da Seder, Wanderley esclarece que no ponto
inicial a prioridade tem sido entender a necessidade do processo, com a análise
e correção do solo. “Espero pular degraus no meu desenvolvimento, usando
conhecimento técnico, apoio e orientação da gestão municipal”, acredita ao
acrescentar que o seu projeto de crescimento está diretamente ligado ao
fortalecimento da cadeia produtiva do leite na Capital.
Outro fator que é
defendido por Wanderley é a primazia pela saúde dos animais. “Devem ser
cercados de cuidados, e isso exige dedicação e conhecimento técnico. Não
queremos ser vistos como quem explora suas vacas sem medir as consequências.
Tudo deve ser feito com responsabilidade e compromisso”, finaliza.
O zootecnista da
Seder Thiago Moreira, que também acompanha o trabalho feito por Ariana e
Wanderley, explica que as duas propostas são diferentes, mas ambas seguem o
mesmo objetivo de obter bons números na produção leiteira, tudo feito com rigor
e em busca da qualidade do produto final.
Moreira detalha que o
trabalho técnico na propriedade de Wanderley identificou a necessidade da
correção do pasto, com o plantio de outro tipo de forrageira para que a
pastagem tivesse alto desempenho. “No início a pastagem estava degradada. Foi
preciso resolver esse ponto e refazer todo o pasto. Implantamos também a
capineira com o BRS Capiaçu, uma cultura com excelente desempenho para o gado
leiteiro, em virtude do elevado potencial de produção e rendimento nutritivo”,
explica o zootecnista.
Ainda em sua
avaliação, Moreira considera o projeto de Ariana inovador. “Apesar de ser um
mercado em expansão, Palmas tem potencial para assimilar os produtos orgânicos
e para quem produz é um diferencial, pois apesar das implicações técnicas que a
área exige o valor para venda é maior”, garante.