Palmas 30 anos: Remanescentes da primeira equipe de Saúde da Família contam como foi o processo de consolidação do SUS na Capital
Primeira equipe de Saúde da Família de Palmas foi habilitada em 1998 no CSC Liberdade no Jardim Aureny III
Contemplar
os avanços obtidos na rede pública de saúde da Capital ao longo desses 30 anos
é motivo de satisfação e sentimento de dever cumprido para muitos profissionais
que atuam na rede desde o início. Apesar das dificuldades no decorrer dos anos,
os serviços de saúde foram se consolidando juntamente com a implantação do
Sistema Único de Saúde (SUS), criado na Constituição Federal de 1988.
Concursos
públicos, melhores estruturas e implantação de programas como a Estratégia de
Saúde da Família (ESF) contribuíram para melhorar o acesso da população aos
serviços. A primeira equipe de Saúde da Família foi habilitada na Capital em
1998 para atuar no Centro de Saúde da Comunidade (CSC) Liberdade, no Jardim
Aureny III, que na época já era o bairro mais populoso de Palmas. Era uma equipe
só, para atender todo o setor. A segunda equipe também foi implantada na mesma
unidade que deu origem a mais dois outros Centros de Saúde – o CSC Laurides
Milhomem também no Aureny III e o CSC José Lúcio, no Lago Sul – promovendo
assim, uma melhor distribuição dos serviços de saúde para a comunidade.
“Na
época, a integração da equipe era muito boa, mas devido ter muita gente para
uma equipe só, era um pouco difícil atender a todos. Era muita gente aqui, não
acomodava todo mundo, tanto que as consultas eram nas casas dos pacientes
porque aqui dentro não comportava toda população. Dava trabalho, só que era
muito gostoso, o médico atendia tanto na casa dos pacientes como em parceria
com as igrejas católica e evangélicas, associações, centro espírita, e isso nos
ajudava muito. A própria comunidade ajudava, quem tinha um local mais amplo se
oferecia”, relata a coordenadora do CSC Liberdade, Maria Bonfim França, que na
época era uma das agentes comunitária de saúde da primeira equipe.
A
unidade na época contava apenas com um consultório médico e um consultório
odontológico; a sala de espera era uma tenda improvisada no lado de fora. Após
as ampliações, o espaço ganhou mais consultórios (dois médicos, dois
odontológicos e dois de enfermagem), além das salas administrativas e um Núcleo
de Apoio à Saúde da Família (Nasf) que conta com farmacêutico, nutricionista,
profissional de educação física, serviço social, fisioterapeuta, psicólogo. O
atendimento dos profissionais do Nasf, que contempla também o público do CSC
Laurides Milhomem, é feito de forma descentralizada na Feira Coberta do Aureny
III, no Centro de Referência em Assistência Social (CRAS), escolas, entre
outros.
União da comunidade
O
construtor Maurílio Rodrigues Medeiros, 62 anos, chegou a Palmas em 1991, e viu
a unidade ser construída. “Em vista do que era na época, hoje está bem mais
evoluído. Naquele tempo tudo era mais difícil; não tinha asfalto, tudo era no
chão, sem água, sem energia; as ruas, uma sim outra não; eram as irmãs
(comunidade católica) que tomavam conta. Hoje está melhor sim, porque nós
pelejamos por melhorias. Hoje, a gente é sempre atendido e sempre atende aos
chamados de campanhas da saúde”, ressalta, citando o Novembro Azul.
O
técnico em segurança do trabalho, José da Conceição Reis, 59 anos, buscou
sempre exercer seu papel de cidadão, reivindicando melhorias ao poder público.
Ele foi o primeiro presidente do Conselho Local de Saúde do CSC Liberdade. “Eu,
como muitos que estão aqui, chegamos primeiro que qualquer serviço público. Com
a organização da comunidade é que os serviços públicos foram vindo aos poucos.
Essa unidade juntamente com o Colégio Estadual Liberdade foram os primeiros
prédios públicos aqui do setor, construídos em 1992”, lembra.
Para
Reis, a evolução dos serviços de saúde é notória, mas acredita que a comunidade
poderia participar mais das decisões que são tomadas na área da saúde,
comparecendo aos espaços de debate como as conferências de saúde. “A saúde
melhorou bastante. Era para estar melhor se a comunidade não tivesse se
acomodado, todos esses serviços, sem exceção, só foram acontecendo devido a uma
luta dos moradores daqui. Se a comunidade que é signatária dos serviços do
município, tem consciência disso e está junto com o poder público lutando, com
certeza os recursos vão ser canalizados para resolver o que é demais urgência
para a comunidade”, pontua.
Papel do agente de
saúde
Também
saudosa, a dona de casa Maria das Mercês Ferreira Lima, 52 anos, foi morar no
Aureny III em 1991, com o marido e os três filhos pequenos. Ela viu a estrutura
dos serviços melhorar, relembra do tempo em que os agentes comunitários de
saúde podiam marcar qualquer tipo de consulta. “A saúde era muito precária,
praticamente não tinha quase nada, porque estava tudo começando, era tudo muito
difícil. Mas com os agentes de saúde melhorou o acesso às consultas no
postinho. Os agentes vinham visitar a gente, se a gente precisasse de uma
consulta, eles agendavam”, conta.
Doraci
Pinheiro da Cruz, a Dora, era a agente de saúde que atendia Maria das Mercês na
época e reconhece que para o usuário era mais cômodo essa função de agendar
todas as consultas, mas ressalta que houve mudanças nas atribuições dos
profissionais e na própria dinâmica do programa.
“Nessa
época, aqui no Aureny III, eram oito agentes de saúde, e hoje, só aqui no CSC
Laurides somos 18. Antes a gente marcava consultas com médicos, mas devido a
estrutura muitas consultas eram em outras unidades, no Aureny I ou no IV. Aqui
no Liberdade era um apoio, era só o técnico e o agente de saúde e a enfermeira
vinha uma vez por mês. Aí em 98 mudou de Programa Agentes Comunitários de Saúde
para Saúde da Família e vieram outros profissionais. Uma equipe hoje conta com
seis agentes de saúde, um médico, um enfermeiro, um técnico de enfermagem, um
dentista e um auxiliar de dentista, e ainda tem os especialistas do Nasf. Então
melhorou muito, porque antes era mais dificultoso”, conclui Dora.